Casa Azul Ventures
Um Manifesto às Startups do Ceará (3/5) - Grandes empresas
Texto por Maurício Cardoso
Grandes empresas podem desacelerar as startups!

Começo deixando claro: as grandes empresas PRECISAM se aproximar das startups, e vice-versa. E essa aproximação tem nome, se chama Corporate Venture (quando as empresas se conectam estrategicamente com startups, sem investir financeiramente) ou Corporate Venture Capital (quando as grandes empresas se conectam, investindo financeiramente nas startups. E reforço uma coisa, quando falo investimento financeiro, estou falando de dinheiro, não horas de consultoria, suporte, acesso, contatos, etc.).
Dito isso, entendo que essa distância precisa ser entendida e estudada. O movimento para ambos precisa ser pensado e todos precisam estar consciente do que, de fato, está em jogo quando isso acontece.
Primeiro, entendo que as iniciativas de Corporate Venture (Capital) podem ter dois fluxos.
De fora pra dentro: é quando as grandes empresas olham para as startups e pensam o que podem se aproveitar delas para melhorar seus produtos, serviços ou operações. Na minha experiência, é o que mais encontro por ai. Pois as startups são sexys, são ágeis, inovam... e as grandes empresas querem ser isso também.
De dentro pra fora: nesse fluxo as grandes olham para os ativos que possuem internamente e disponibilizam para que as startups se utilizem desses ativos para ganhar tração, escala, otimizar custos, etc. Esse movimento é romântico para as startups, pois pode fazer com que a startup economize muito, ainda mais se cresce em bootstraping.
Mas qual o problema? Aparentemente, ambos os fluxos são oportunos e facilitam o desenvolvimento do ecossistema.
É... mas tudo tem seu custo (real ou de oportunidade).
No caso "De fora pra dentro"
Quando uma startup se aproxima de uma grande corporação para adequar um produto, desenvolver uma POC (prova de conceito) ou piloto, o discurso inicial é bom, a promessa de retorno financeiro é atrativa e o potencial é chamativo. Mas uma das coisas mais estratégicas das startups é sua capacidade de repetição e escala. Uma startup não tem na sua essência a expertise de personalizar produtos para grandes empresas, e isso pode ser perigoso.
Quais os riscos? Bem, a startup pode virar uma pequena/média empresa (e não tem problema nenhum pra mim, mas os empreendedores tem que entender que a trajetória é diferente). E elas podem virar uma pequena/média empresa por perder na sua essência a capacidade de repetição e escala.
Qual segundo risco? Bem, a startup pode ser contratadquirida (acquihired). A grande empresa faz uma ofertão tão interessante que não tem como negar. E tudo que foi desenvolvido faz parte da grande empresa (e isso também não tem problema nenhum, em muitos casos são os planos dos empreendedores. Denovo, só sejam conscientes).
No caso "De dentro pra fora"
As startups, em um primeiro momento, podem se encantar muito em utilizar recursos das grandes empresas para ganhar capacidade operacional e até velocidade para crescer. Entretanto, é necessário estar consciente, as grandes empresas esperam em muitos casos um retorno pelo investimento (podendo ser via revenue share ou equity share, sendo o segundo o mais comum que encontro). Tá tudo bem ceder equity para uma grande organização (ou para seu programa de aceleração)... e pode até ser uma grande validação do mercado, há um grande potencial retorno.
Mas e ai... temos problemas? Não, mas pode ter... Equity é o bem mais valioso do empreendedor. Hoje, pode não valer nada... mas no futuro, você pode se ver com uma divisão que considera injusta e que não foi interessante. Ceder equity é arriscado, perigoso e precisa sempre ser feito com consciência do que se espera e quanto você acredita que vale.
E o que mais? Bem, as startups são conhecidas pela sua capacidade de pivotar e mudar de direções, e se utilizar de processos de grandes empresas pode fazer com que a startup perca essa capacidade. Pense que, em uma mentoria você identifique que precisa mudar um recrutamento de Data Scientist para Desenvolvedor Full Stack... Por conhecimento de algumas empresas, fazer isso olhando para processos internos de grandes organizações, pode te custar 2x ou 3x o tempo que você demoraria normalmente. Isso sim é arriscado.
Bem, aparentemente, meu discurso está olhando muito o lado dos empreendedores e empreendedoras. E tá mesmo, pois é para eles que o manifesto foi escrito.
Meu papel, hoje, é acelerar empreendedores e empreendedoras e criar ambientes que também façam isso. Se possível, ajudar as organizações ensinando como que poderiam criar esse ambiente para que as startups triunfem. Qualquer coisa que esteja além dessa perspectiva, não cabe nesse manifesto (talvez em um post exclusivo do blog, trago a perspectiva da empresa).
Se você é de uma grande empresa, não concorda comigo ou concorda ... quer conversar? Me encontrem: mauricio.cardoso@casaazul.vc